TRADUCTOR

Licencia de uso:

Los artículos, reflexiones y otros documentos publicados en este sitio son © Derecho Reservado. Se permite su uso siempre y cuando no se altere los contenidos y se reconozca a su autor.
jueves, 20 de febrero de 2020

SAL E LUZ. APONTAMENTOS PARA UMA ÉTICA CRISTÃ. [1]

Planteamento do tema

Não há quem discorde que as igrejas evangélicas devam ser reservas éticas no mundo atual. Porém, é necessário pensar em quais são as implicações desta demanda. É essa a reflexão que proponho neste artigo. Talvez eu não diga nada novo. Esta não é a questão. O que importa é recordar as palavras de Nosso Senhor Jesus quando disse a seus discípulos que são “o sal da terra” e “a luz do mundo” (Mateus 5.13-16).

O pastor e teólogo Karl Barth captou muito bem o sentido desta metáfora e é impossível ignorá-lo quando se fala de ética. Ele disse, em seu ESBOÇO DE DOGMÁTICA: “Deve ficar claro que a Igreja precisa existir para o mundo, que a luz brilhe no velador. Assim como Cristo não veio para ser servido, tampoco convém aos cristãos existir em sua fé como se o fizessem para si mesmos”.

Se as igrejas evangélicas na América Latina querem cumprir de forma integral com sua missão no mundo, não têm outra alternativa a não ser apresentaremse como “sal e luz”. Os cristãos, por isso, devem ser “salgados” e “luminosos”, portadores de esperança e vida, ou seja, da graça de Deus. Sem isto não há ética evangélica possível, já que é a condição que possibilita uma inserção diferenciada no mundo. Porém, uma Igreja que faz de si mesma a totalidade do mundo perde sua capacidade de viver para o mundo real. Devemos tomar cuidado com este dualismo. É uma tentação constante ao longo da história, ainda que nos custe enxergá-la.

A igreja como comunidade de graça

A Igreja vive em comunidade quando reconhece que a Graça de Deus atuou em Cristo outorgando perdão, justificação e reconciliação (Romanos 5.1-11). Porém, esta graça é também o poder de Deus em nós que realiza a santificação por meio da ação do Espírito Santo. Assim, a graça nos dá forças para ser o que não podemos ser por nós mesmos. O Espírito nos enche de poder para que atuemos eticamente. Deus, ao longo da história, tem convocado um povo. Não é isso a Igreja? A pergunta é, contudo, para quê? As respostas –como sabemos – têm sido várias e algumas vezes até opostas.

A Igreja necessita discernir entre a ética que proclama e a que diz viver. José Vico, autor de ÉTICAS TEOLÓGICAS ONTEM E HOJE, comentou acertadamente que a ética cristã “antes de ser ética formulada, é ética vivida”. Neste sentido, a ética vivida pelos cristãos só é possível graças à fé em Jesus, o Messias. A ética bíblica é marcadamente teísta. O ponto focal é Deus. Conhecer a Deus é saber como pôr em prática a retidão e a justiça (Jeremias 22.15-16, Provérbios 3.5-7). Trata-se, sem dúvida, de uma definição elementar, porém suficiente para orientar-nos. Não definimos nossa ética a partir de determinada situação, mas a partir de Deus. E ele nos revelou em que consiste fazer a sua vontade: relacionarmo-nos com retidão e justiça. Isso é ética. Pessoalmente, creio que por aí caminha a graça de Deus, e por aí deve caminhar também a prática da Igreja.

Se efetivamente é assim, por que em algumas igrejas existe certa “ética” que mais parece uma negação dela mesma? As muitas normas e regras a que alguns têm reduzido a ética cristã oprimem os(as) fiéis e transformam a ética num legalismo carente de vida e de graça. Em PROTESTANTISMO E REPRESSÃO, obra escrita há quase três décadas, mas ainda atual, Rubem Alves refletia da seguinte maneira sobre os limites entre o permitido e proibido em sua igreja:
    Onde estão, formalmente definidos, os pecados passíveis de castigo? Em nenhum lugar. Neste caso, as definições constituem uma série de acordos silenciosos que todos conhecem, sem necessidade de “codificação”. A prática da disciplina revela uma persistente regularidade no que se refere aos pecados que são castigados, de tal sorte que é possível organizá-los em cinco classses distintas. A primeira classe é composta pelos pecados do sexo. A segunda contém as transgressões do dia santificado, o domingo. Na terceira, encontramos os vícios: fumar, beber, jogar. Os crimes contra a propriedade como o roubo e a desonestidade constituem a quarta. E, finalmente, a quinta categoria contém os crimes de pensamento, as heresias.
Estes pecados traçam com clareza a fronteira que separa os crentes “do mundo”: santidade x pecado, salvação x perdição. Porém, trata-se de uma ética que se aplica quando convém. Isso o sabemos todos. Esta “ética” sempre estará ausente de graça. Uma ética que se aplica com rigor não é ética, é lei. E a graça de Deus? E a justiça da comunidade cristã? Coisa curiosa, no que diz respeito ao “social” e ao “político” os dirigentes das igrejas evangélicas no Peru –nos anos da ditadura de Fujimori (1992-2000)– de pronto se sentiram “cheios de graça”. Os congressistas evangélicos que apóiavam a ditadura e defendiam inclusive os desaparecimentos e violações de direitos humanos nunca foram objeto de sanção em suas denominações. Como não tiveram problemas de “ética” em suas igrejas, se ocuparam de projetos de lei contra a vagabundagem (em um país que tem um alto índice de desemprego) e contra o uso de minissaias nas instituições públicas, já que estas “atentavam seriamente contra a moral pública”. Parece que enquanto a mentira, a calúnia e o cinismo não constituíam causa de sanção alguma, mostrar as pernas, sim.

A igreja como reserva de ética divina

Os(as) cristãos(ãs) não temos problemas em dizer que temos certa ética, certos princípios que, inclusive, pessoas não evangélicas identificam: “É evangélico? Deve ser boa gente!” Já me disseram isso mais de uma vez. Graças a Deus porque tais pessoas haviam conhecido a cristãos honestos e dignos de confiança. Agora, não quero dizer com isto que ser evangélico é sinônimo de “ser boa gente”, às vezes – e com freqüência – significará o contrário, sobretudo em situações ou contextos que requerem um testemunho íntegro, verdadeiro e justo (Atos 17.1-9).

Em junho de 2001 sofremos um terremoto de grau 7.8 no sul do Peru. Coube-me coordenar o trabalho interdenominacional para apoiar a população e vi coisas assombrosas. Um pastor começou a administrar dinheiro doado para ajudar os desabrigados; e logo apareceu um terreno em seu nome. Outro pastor melhorou sua residência ostensivamente. Nenhum dos dois deu conta do dinheiro recebido; ao contrário, ambos jogaram a culpa no diabo pelas coisas que se diziam deles. Por outro lado, os irmãos da igreja não ficaram atrás: vários deles se fizeram passar por desabrigados –quer dizer, falsearam a informação a instituições estatais e fizeram falsas declarações juradas– a fim de receber alguna doação ou benefício em créditos bancários.

Temos a impressão de que assistimos ao surgimento de um tipo de igreja que carece de esperança escatológica no Reino de Deus, que flerta com a cultura predominante atual e que perde sua criticidade frente aos sistemas políticos e econômicos injustos. E no meio de tudo isso, temos os novos “apóstolos” que pretendem dirigir as igrejas com uma autoridade e verticalidade nunca antes vista. Quer dizer, o panorama eclesial não é muito favorável para aqueles(as) cristãos(ãs) que sabem que na comunhão eclesial devem lutar contra certa “ética legalista” e buscar uma ética a favor da vida humana, cuja característica predominante seja a justiça.

Em um artigo interessante, o teólogo e historiador Arturo Piedra sustenta que um dos grandes desafios eclesiais no plano da missão é recuperar a mensagem bíblica em sua dimensão integral. E isto inclui dois aspectos: a) um chamado a levar a sério a dor humana
e as estruturas injustas que a produzem. e b) a integração da mensagem profética, que sempre incomoda aos poderosos. Isto também deve ser parte de nossa ética evangélica (acaso não a havíamos entendido como a prática da retidão e da justiça?) Resta muito por fazer ainda. Nosso Senhor Jesus Cristo continua nos desafiando a atuar nas atuais condições como comunidade de graça. A igreja é, de fato, reserva da ética divina? Já o veremos, e para vê-lo é necessário tomar as decisões corretas.
_____________________________

PIE DE PÁGINA

[1] Esta es una traducción bastante resumida de mi conferencia leída en México D.F. en una reunión de la Comisión Teológica Latinoamericana (y publicada por una revista metodista de Brasil). Originalmente tuvo el título de “Salados y lucíferos. Apuntes para una ética cristiana”.


No hay comentarios.:

Publicar un comentario

Gracias por tu visita.

ENTRADAS POPULARES

Wikipedia

Resultados de la búsqueda